Nem a mais eficiente bola de cristal poderia prever como se comportariam as importações de vinho nos primeiros seis meses de 2020. Com mais de metade do primeiro semestre sob os efeitos da quarentena, a importação de vinhos e espumantes cresceu no consolidado destes seis meses. Foi registrado um aumento de 7,4% no volume trazido para o Brasil, nos primeiros seis meses do ano em comparação com igual período de 2019. Em valores, houve uma retração de 3%, somando US$ 152,6 milhões no primeiro semestre.
Entraram legalmente no Brasil 5,9 milhões de caixas de 9 litros (ou 12 garrafas de 750 ml), entre vinhos e espumantes, o equivalente a 71,3 milhões de garrafas neste primeiro semestre. Foram 5,5 milhões de caixas no mesmo período do ano passado. Na análise por categorias, a importação de vinhos registrou a alta mais significativa, de 7,8%. O volume passou de 5,3 milhões de caixas de 9 litros para 5,7 milhões de caixas de 9 litros, sempre na comparação do primeiro semestre de 2020 com o de 2019.
Nos espumantes e proseccos, o volume ficou praticamente estável, com uma alta de 0,6%. Foram 184,6 mil caixas de 9 litros no primeiro semestre de 2019 e 185,7 mil caixas em 2020. Nos champanhes, nota-se uma queda significativa, de 34,9% no volume de garrafas. Se no primeiro semestre de 2019 entraram no Brasil 19,2 mil caixas de 9 litros; no período de janeiro a junho chegaram 12,5 mil caixas.
Quando comparado com os valores, em dólar FOB, a redução no semestre foi de 37,5% para os champanhes; de 9,9% para os espumantes e de 1,7% para os vinhos. Na média geral entre as três categorias, chega-se à queda de 3% no total da importação.
Se analisarmos apenas o mês de junho, quando o setor já conseguia entender (ou digerir) o significado da pandemia e do consumo de vinhos em casa, todas as categorias – champanhes, espumantes e vinhos – registraram aumento de volume na comparação a junho do ano passado. Em Champanhe, foram 1,8 mil caixas de 9 litros contra as 1,7 mil caixas de junho de 2019, o que equivale a uma alta de 4,5%. Nos espumantes, entraram no país 30,3 mil caixas de 9 litros em 2020 e 29,4 mil caixas em 2019. Nos vinhos, foram 940,2 mil caixas em 2019 e 1,2 milhão de caixas em 2020, um volume 21,2% maior.
O aumento tende a indicar que os estoques das importadoras baixaram significativamente, levando-as às compras e a internalização das garrafas, mesmo com a alta cotação da moeda norte-americana. Uma primeira análise possível, e ainda preliminar, é que o consumo doméstico está conseguindo compensar a queda de venda para restaurantes, bares e hotéis. Isso tende a favorecer as empresas que estão conseguindo atuar em canais multi-plataforma de vendas, com muita relevância nos e-commerces e deliveries.
A queda de 3% dos valores registrados em dólar, na comparação com o primeiro semestre de 2019, indica que as importadoras estão apostando em vinhos mais baratos. O valor médio da caixa com 9 litros de vinho no primeiro semestre de 2020 ficou em US$ 25,7 (FOB), contra US$ 28,4 do mesmo período do ano passado.
Outra confirmação desta tendência está na comparação por faixas de preço. Só registraram aumento na importação aqueles rótulos de menor valor FOB. Naqueles vinhos importados por até US$ 19,99 FOB a caixa de 9 litros, há um aumento de 24,1% no volume importado. Na faixa seguinte, de US$ 20 a US$ 29,99, o incremento nas importações foi de 9,7%. Nas demais faixas de preço, há sempre redução no volume importado na comparação entre o primeiro semestre deste ano e do ano passado.
O Chile continua na liderança do mercado neste primeiro semestre. Os rótulos do país andino representam 42,4% do mercado de vinhos importados pelo Brasil. O volume das vendas chilenas cresceu 10,1% em volume, apesar de ter registrado uma redução de 5,2% em valor. Portugal, que vem se consolidando em segundo lugar com 16,8% do mercado, teve um aumento de 17,2% em volume e de 18,6% em valor neste primeiro semestre, sempre na comparação com o ano anterior. Na Argentina, que ocupa o terceiro lugar, com 15% do mercado, a alta em volume de garrafas foi de 5,3%, mas o país registrou queda de 2,5% em valor.
Agora é esperar o movimento do segundo semestre, período que, tradicionalmente, concentra não apenas as importações como também o consumo da bebida no Brasil.
