A moda dos vinhos naturais e sem álcool desafia a definição tradicional, enquanto os puristas defendem a importância do processo original
A discussão sobre o vinho sem álcool levanta diversas questões sobre a identidade e a essência da própria bebida. Para muitos, o vinho é definido não só pelos seus sabores complexos e aromas, mas também pelo processo de fermentação, que resulta naturalmente no álcool como um de seus componentes principais.
Quando esse elemento é removido, surge a dúvida: estamos ainda diante de um “vinho”? Por um lado, o vinho sem álcool oferece uma alternativa interessante para aqueles que buscam os sabores e a experiência do vinho, mas sem os efeitos do álcool. Por outro, os puristas argumentam que ao eliminar o álcool, a bebida perde sua verdadeira natureza, tornando-se algo bem distante da definição tradicional.
Em um mercado crescente de consumidores mais conscientes sobre saúde e bem-estar, essa polêmica só tende a se intensificar, com os defensores de ambos os lados buscando afirmar suas definições do que realmente constitui um vinho.
“O vinho segue uma regra: abaixo de um certo teor alcoólico – que pode variar entre 5% e 8%, dependendo da legislação de cada país –, a bebida não pode ser considerada oficialmente um vinho. No Brasil, a graduação alcoólica mínima é de 7%. De qualquer forma, se alguém não quer consumir vinho com álcool, não faz muito sentido buscar um sem álcool”, afirma o wine hunter e sócio da Enclos Importação, expositora da ProWine São Paulo 2025, Vicente Jorge.
Segundo ele, essa preocupação se assemelha à ideia de que o vinho natural é, automaticamente, melhor do que o vinho tradicional. O que não é verdade. O fator determinante para a qualidade do vinho é a competência do enólogo, qualidade das uvas, entre outros. Se o profissional for ruim, o vinho também será – independentemente de ser natural ou convencional.
Jorge observa que no Brasil muitas pessoas estão consumindo vinhos naturais e se convencendo de que estão bons, mesmo quando apresentam defeitos evidentes, como oxidação. A verdade é que os avanços na produção vinícola levaram milhares de anos para serem desenvolvidos. O vinho de dois mil anos atrás era praticamente imbebível.
Hoje, os processos químicos utilizados na produção são regulados e aplicados em quantidades seguras, garantindo a qualidade e estabilidade da bebida sem prejudicar a saúde do consumidor.
“A moda dos vinhos naturais traz consigo alguns equívocos. Muitos jovens aderem a essa tendência acreditando que esses vinhos são mais saudáveis devido à presença de antioxidantes e à menor adição de insumos como enxofre. No entanto, esses compostos estão presentes em quantidades ínfimas e não representam riscos. Pelo contrário, ajudam a preservar o vinho e a garantir sua qualidade ao longo do tempo”, explica o wine hunter.
Além disso, a busca por vinhos sustentáveis e orgânicos não é novidade. Muitas das melhores vinícolas do mundo já operam de forma orgânica há anos, sem necessariamente estamparem isso nos rótulos. Afinal, manter a saúde do solo e das videiras de maneira sustentável também é economicamente vantajoso para o produtor, reduzindo a necessidade de adubos e pesticidas.
O problema é que, segundo o especialista, muitas vezes, o vinho acaba sendo tratado como vilão, quando na realidade ele é uma das bebidas alcoólicas mais naturais e reguladas do mundo. O importante é buscar qualidade, independente da tendência do momento.
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