O crescimento total das importações na região foi de 8% em relação a 2023; em sua nona edição, o seminário Adega Ideal apresentou o balanço de 2024 e discutiu os desafios e oportunidades no mercado local, com foco no crescente interesse dos produtores internacionais
Aconteceu no último dia 27 de fevereiro, em São Paulo, a nona edição do Adega Ideal, o mais relevante congresso profissional do mercado de vinhos no Brasil. O evento trouxe uma análise detalhada do setor, com destaque para a expressiva marca de US$ 500 milhões em importações em 2024. Sob a mediação de Christian Burgos, CEO da Revista Adega e diretor da ProWine São Paulo, e Felipe Galtaroça, CEO da Ideal Consulting, o seminário reuniu um seleto grupo de líderes da indústria, incluindo produtores, importadores, varejistas e educadores, promovendo um debate qualificado sobre os rumos do mercado.
No último ano, as importações de vinhos na América Latina cresceram 8%, um número que amplia o interesse dos produtores internacionais, especialmente diante da queda de consumo na Europa, dos desafios na Ásia e da estabilidade do mercado nos Estados Unidos. Esse crescimento incentiva o aumento das metas de exportação para a região, com destaque para o Brasil, que registrou um avanço de 10% (subindo de US$ 468.867.679,4, em 2023, para US$ 518.216.136,7, em 2024), a República Dominicana, com 20% (indo de US$ 72.995.546,4, em 2023, para US$ 88.063.956,7, em 2024), enquanto o México manteve um desempenho estável, com uma variação de 1,2% de um ano para outro.
“Quando se trata do Brasil, é evidente que muitos produtores e associações estão direcionando grandes investimentos para o país. Sempre me perguntei se essa estratégia fazia sentido e se o mercado realmente responderia a tanto investimento. A resposta que ouvi foi clara: ‘Não há outro lugar para colocar’. Ou seja, apesar dos desafios, o Brasil se destaca como uma das melhores opções de investimento e atenção no cenário atual. Ainda assim, o país não garante que o mercado responderá positivamente a todos que optarem investir nele”, garantiu Burgos.
O CEO da Revista Adega ressaltou um ponto importante sobre o aumento do investimento das ONGs, especialmente da União Europeia e o assédio dos produtores. Segundo ele, embora isso aumente a pressão, pode ser positivo, principalmente quando se trata de ações de marketing financiadas por esses recursos, que ajudam a divulgar o vinho sem onerar diretamente o bolso do importador, beneficiando o mercado como um todo. No entanto, a expectativa em relação aos números muitas vezes é irreal.
Burgos mencionou que, apesar de muitos acreditarem que o grande desafio para o vinho seja o movimento antiálcool, esse fenômeno ainda não se materializou de forma significativa no Brasil ou na Europa. Desde o pós-guerra, o consumo de vinho tem caído nos países produtores, especialmente com a urbanização e a perda da bebida como fonte de calorias no trabalho rural.
Já o varejo nacional tem buscado maior profissionalização e controle de estoques, enquanto os produtores, especialmente os chilenos, enfrentam a necessidade de reorganizar suas estratégias de plantio e comercialização. O mercado está em um momento de transição, onde a consolidação e o planejamento estratégico serão fundamentais para um crescimento sustentável.
Segundo Burgos, a indústria vinícola, como um todo, enfrenta desafios significativos com a entrada de produtos que não atendem às mesmas exigências ambientais, regulatórias e de rastreabilidade aplicadas aos produtores locais, especialmente na França. Isso gera uma forte resistência e torna o tema politicamente sensível no país. Para que os produtos estrangeiros sejam aceitos, seria necessário um alinhamento regulatório com as normas vigentes para os vinicultores franceses.
“Ao analisar o mercado brasileiro, estimamos seu tamanho considerando volumes comercializados (sell-in) e preço médio de varejo (retail). O vinho de mesa apresenta o menor preço do mercado. Além disso, algumas marcas adotam estratégias tributárias diferenciadas para ampliar sua distribuição nacional, especialmente nesse segmento”, explicou Galtaroça.
Com a redução do poder de compra da população, o vinho de mesa se torna uma alternativa acessível ao consumidor, que muitas vezes não distingue entre vinhos de uvas viníferas e americanas. Paralelamente, observa-se uma reconfiguração do segmento, com uma valorização que tem reposicionado até mesmo os vinhos de entrada como itens de luxo.
Os dados também revelam oportunidades no varejo. O vinho importado representa 60% do mercado em valor, com preço médio de R$ 53,70. No varejo, essa média cai para R$ 36,00. Já os vinhos nacionais têm forte presença no autosserviço, mas ainda precisam expandir sua distribuição para canais especializados e on-trade, como bares e restaurantes. O espumante brasileiro, por exemplo, cresceu de 25 para 37 milhões de litros nos últimos anos, demonstrando um potencial de valorização.
Diante desse cenário, a indústria nacional enfrenta o desafio de consolidar sua presença e ampliar sua participação em segmentos de maior valor agregado. O fortalecimento das estratégias comerciais e a adaptação às novas dinâmicas do varejo serão determinantes para o crescimento sustentável do setor.
Confira os principais insights da nona edição do Adega Ideal:
Clique aqui e assista na íntegra ao Adega Ideal 9ª Edição
Reconhecimento: as maiores empresas de 2024
Além do debate sobre a situação atual do mercado e tendências para o futuro, o Adega Ideal reconheceu 13 empresas pela atuação no ano de 2024. Foram utilizados os números de importação e comercialização do fechamento do ano passado por categorias. Confira:
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