O segmento de alta gama cresce em um cenário de mudanças, com o comércio eletrônico ganhando espaço, mas a experiência presencial ainda sendo essencial
Nos últimos anos, o mercado de vinhos no Brasil passou por transformações importantes, impulsionadas tanto pela mudança de hábitos dos consumidores quanto pelo crescimento do comércio eletrônico. Entre tendências e desafios, um segmento se mantém sólido: o dos vinhos premium e super premium. Apesar de representar uma fatia pequena do mercado, esse nicho segue estável e em expansão, refletindo o amadurecimento do consumidor e seu interesse por rótulos de maior qualidade.
Segundo o wine hunter e sócio da Enclos Importação, expositora da ProWine São Paulo 2025, Vicente Jorge, o consumo de vinhos super premium sempre existiu e continua em alta. Embora represente apenas 3% do mercado nacional, o segmento permanece sólido, pois os consumidores com poder aquisitivo continuam a adquirir esses produtos. Durante a pandemia, essa procura aumentou, já que, impedidos de viajar, muitos optaram por investir em rótulos de alta gama disponíveis no Brasil.
“De forma geral, o paladar evolui com o tempo, e, se o bolso acompanha essa evolução, o consumidor passa a investir em vinhos mais caros. Um fenômeno importante ocorrido na pandemia foi a entrada de novos consumidores. Como as pessoas ficaram mais tempo em casa, passaram a beber mais vinho no dia a dia”, lembra Jorge.
Por outro lado, aqueles acostumados à cerveja inicialmente estranharam o preço do vinho e relutavam em pagar mais de R$ 40 por garrafa. Para atender essa demanda, importadores buscaram alternativas mais acessíveis, trazendo grandes volumes de rótulos de entrada, especialmente do Chile, Portugal e Espanha.
O resultado foi uma ampla oferta de vinhos de baixo custo, tanto em prateleiras físicas quanto em e-commerces. Para o wine hunter, esse movimento teve prós e contras: se, por um lado, inundou o mercado com rótulos de qualidade questionável, por outro, serviu como porta de entrada para novos consumidores.
“Agora que esse público está mais familiarizado com o vinho, percebemos uma evolução no consumo. Os importadores passaram a trazer rótulos de melhor qualidade, na faixa de 4 a 5 dólares, que oferecem mais complexidade e refinamento. Além disso, nunca houve tantos cursos de sommelier no Brasil como hoje, um reflexo do crescente interesse dos consumidores em aprofundar seus conhecimentos e fazer escolhas mais criteriosas”, destaca.
E-commerce x lojas físicas: concorrência ou convivência?
A maior procura por vinhos no comércio eletrônico acompanhou o boom desse segmento, especialmente na pandemia, quando as vendas on-line dispararam. No entanto, as lojas especializadas ainda oferecem um diferencial significativo: a experiência sensorial e o contato direto com especialistas.
“Acredito que os dois modelos seguirão coexistindo. O e-commerce, sem dúvida, impactou as lojas físicas, mas cada um tem seu papel no mercado. O maior desafio para o varejo tradicional não é a concorrência on-line e sim os obstáculos do dia a dia, como trânsito intenso, dificuldades de estacionamento e questões de segurança, que podem desestimular a visita dos consumidores. No entanto, o vinho está profundamente ligado à experiência sensorial. Muitos apreciam ir até a loja, segurar a garrafa, ler o rótulo e conversar com um especialista. Esse contato direto gera confiança e torna a compra mais envolvente. Depois que o consumidor descobre e se encanta por um vinho, o e-commerce surge como um aliado prático, permitindo que ele adquira seus rótulos favoritos com poucos cliques e receba tudo no conforto de casa”, analisa Jorge.
Por isso, muitos e-commerces estão investindo em lojas físicas, justamente para oferecer essa experiência presencial e construir um relacionamento mais próximo com o consumidor. Esse modelo híbrido, combinando conveniência e atendimento personalizado, deve ser o futuro do mercado de vinhos.
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