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'Dupla poda': técnica criada por engenheiro agrônomo muda a forma de fazer vinho em São Paulo

Desvio do ciclo de amadurecimento e de colheita, do verão para o inverno, proporciona uvas com maior qualidade para a produção de vinhos finos

Os empresários de São Paulo estão de olho no aumento da produção de vinho. Isso vai permitir investir mais, por exemplo, em bebidas refinadas. Essa mudança já começou, e em muito se deve à criação do Vinho de Inverno e à adoção da dupla poda nas videiras, criada pelo pesquisador e engenheiro agrônomo Murilo Albuquerque Regina.

“Na prática, a dupla poda é executada com o objetivo de desviar o ciclo de amadurecimento e de colheita da uva, tirando ele do verão para ser feito no inverno. Para isso, temos de fazer duas podas por ano na videira. O objetivo de se colher no inverno é que temos, no inverno de todo o sudeste brasileiro, em São Paulo e outros estados, uma condição de clima que favorece a perfeita maturação da uva”, detalha.

Os ramos que vão produzir as frutas são cortados e, quando nascem de novo, é a vez da primeira florada ser descartada. Assim, a próxima vai se desenvolver só na época adequada, proporcionando o crescimento de uma uva com mais qualidade para a produção de vinho.

“É uma uva que tem maior teor de açúcar, porque não há água no solo, então você não tem dilução; você tem dias ensolarados, com maior condição de sintetizar açúcar e fazer uma maturação da casca, com boa maturação de polifenóis. E pela amplitude térmica do inverno, com dias quentes e noites frias, teremos bons teores de acidez e boa maturação das cascas da videira, permitindo assim maior qualidade para fazer vinhos finos”, complementa.

🍇🤝🏻 Prazer, syrah
A nova técnica, aliada à tecnologia de ponta e a novos investimentos, está transformando o jeito de fazer vinho em São Paulo. Na beira da represa de Jurumirim, em Itaí, mais um investimento milionário: a fazenda tem 200 hectares, sendo dez deles com 40 mil pés de uva. Nada de vinho de garrafão, só vinho fino.

“A gente consegue pegar tanto o clima propício para as videiras se desenvolverem, mas também esse grande visual da represa, da mata, e dar toda essa amplitude. A nossa entrega tem que ser um pouco mais personalizada, um pouco mais customizada, e queremos estar pontualmente em alguns restaurantes que realmente tenham sinergia com a gente, que tenham um tipo de produto final que se assemelhe com a gente, que case nessa harmonização”, diz Adriano Soncini, dono da vinícola.

A vinícola tem sete hectares de uva syrah, espécie que se adaptou muito bem à técnica da dupla poda. Ela acaba de ganhar um dos maiores prêmios internacionais, colocando um vinho dessa uva na lista dos mais bem avaliados do Brasil em concurso que reuniu vinícolas de 14 países.
O feito se deve, em muito, ao trabalho do enólogo gaúcho Paulo Giacomini. Ele acompanha de perto o cultivo e a colheita da uva.

“Fazemos análises químicas, de açúcar, de acidez e de PH. E visualmente, vemos como está o mosto dela, se está soltando fácil ou não, se a casca está sensível, e experimentamos para saber como está o sabor, se há equilíbrio entre açúcar e acidez, observamos a semente, se está com aspecto marrom. Quando ela está fácil de mastigar, quebra fácil e não traz sensação de amargor e adstringência, entendemos que está no ponto para colher”.

Em Lençóis Paulista, uma vinícola rompeu com a tradição. Durante praticamente um século, as uvas doces eram as únicas por lá. Mas, em 2020, tudo mudou: a syrah foi a escolhida para começar uma nova história.

“O brasileiro não quer mais o vinho doce, ele está evoluindo para conhecer a bebida. Sentindo esse mercado, sentindo esse meio, a gente resolveu renovar também a nossa história, os nossos vinhedos, o que a gente está em busca. Um novo salto”, garante Marisa Casagrande, dona da vinícola.
Os primeiros resultados já estão nas garrafas e abriram um novo horizonte para a família. A busca, agora, é melhorar a cada ano. O sonho de Marisa, por exemplo, é ter o seu vinho reconhecido no país todo e premiado.

“Tem coisas ainda para investir, mas esse ano, com o tanque de fermentação, a máquina do Chile que faz um diferencial também, isso vai dar a resposta desse investimento que a gente fez. Então, tudo está dentro desse propósito. Isso aqui precisa ser reconhecido, precisa ter nome, precisa ter a nossa marca, a nossa cara dentro disso tudo”.

🍇❤️ Inspiração no legado
A enóloga Ariana Sgarioni é da quarta geração da família responsável por uma vinícola em Jundiaí. E a história dos seus antepassados foi a inspiração para criar um produto que caiu no gosto dos clientes: o espumante de niágara.

“Eu acho que a gente, investindo na uva niágara, não necessariamente precisa fazer o vinho igual o meu avô fazia. Eu não preciso fazer isso para continuar a tradição da minha família. Eu posso dar a minha cara, eu posso dar os novos processos, eu posso colocar novas tecnologias, eu posso colocar um protocolo de vinificação diferente numa uva que ele já acreditava. Isso é continuar dando valor à tradição, mas trazendo para minha realidade”, afirma.

Conhecida pelos vinhos doces, a vinícola dela passou a produzir, também, os vinhos finos: parte com uvas plantadas em Jundiaí mesmo, e parte com o que vem de outras regiões. Tecnologia e novos processos foram implantados aos poucos, no dia a dia, como a uva IAC-Máximo, uma variedade criada no Estado de São Paulo.

“A nossa ideia, daqui para frente, é trazer esse cliente, esse turista, a também conhecer essa realidade que acontece aqui dentro desse sítio, acontece aqui dentro da empresa, que é a produção do vinho”.

Fonte: G1

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