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Quando o vinho se torna uma obra em andamento, cada safra é um novo capítulo

Entre barricas e garrafas, a Maximo Boschi constrói um legado feito de tempo e paciência

No coração da Serra Gaúcha, onde o Vale dos Vinhedos se desenha como um cenário perfeito para a viticultura, nascia, há 25 anos, uma vinícola que desafiaria os limites do tempo e da tradição. A Maximo Boschi não é apenas mais uma vinícola entre tantas outras; ela representa a união de uma paixão inabalável e uma ousadia criativa. Fundada pelos enólogos Renato Antônio Savaris e Daniel Dalla Valle, a marca se dedica à arte de criar vinhos de guarda, aqueles que são cultivados com paciência, amadurecidos nas sombras de barricas de carvalho e, sobretudo, aqueles que resistem ao tempo, elevando-se em qualidade e complexidade à medida que envelhecem.

Em 2000, quando o conceito ainda estava em seus primeiros passos, os sócios iniciaram sua jornada. Após discutirem a ideia de abrir uma vinícola, logo perceberam que o caminho tradicional, que envolvia a compra de terras e o plantio das uvas, seria um processo complexo e financeiramente inviável para aquele momento. Com essa percepção, decidiram adaptar os planos iniciais, alugando um espaço e comprando as uvas de produtores locais.

“A Maximo Boschi está no mercado há um quarto de século e tudo começou quase como uma brincadeira, mas, com o tempo, o projeto foi ganhando forma e se tornou um negócio sério. A vinícola deu seus primeiros passos em Farroupilha, em um espaço cedido por um conhecido, onde foram produzidas as primeiras duas pipas de 3 mil litros. Hoje, a marca caminha para o 17º rótulo, sempre mantendo o compromisso com vinhos de guarda, elaborados para evoluir com o tempo”, lembra Savaris.

O objetivo sempre foi desenvolver um produto que não existisse no mercado. Não era sobre salvar o mundo, mas sim sobre criar vinhos com mais tempo de maturação. Naquela época, a prática comum era elaborar um vinho e vendê-lo em dois anos. Mas os enólogos queriam algo que pudesse evoluir com o tempo.

A filosofia da empresa é clara: cada vinho precisa ser único. A Maximo Boschi não cria vinhos semelhantes apenas para cobrar mais caro. Para Savaris, o compromisso da vinícola é garantir que, ao colocar um de seus vinhos na taça, o cliente perceba a diferença. Essa busca pela autenticidade, qualidade e inovação é o que define a marca.

A arte do vinho com foco na qualidade e não na produção

Na Maximo Boschi, a decisão de não plantar suas próprias uvas pode surpreender à primeira vista, mas carrega uma lógica estratégica bem definida. Em vez de investir tempo e recursos na gestão de vinhedos, a vinícola escolheu se especializar naquilo que mais entende: a arte de criar vinhos excepcionais. 

Para os fundadores, a experiência de cultivar uvas é uma competência que pertence a outros. Ao confiar essa tarefa a produtores especializados, a Maximo Boschi mantém seu foco no processo final, na transformação da uva em um vinho de qualidade. Esse enfoque permite à vinícola trabalhar com as melhores uvas de diversas regiões, sem se limitar ao volume, mas priorizando sempre o sabor e a excelência.

Essa escolha não se traduz em descaso, mas em uma forma de otimizar o que realmente importa. Ao invés de seguir o modelo tradicional de plantação própria, a Maximo Boschi construiu uma rede de parcerias com produtores locais, conhecidos pela habilidade e dedicação. O relacionamento é pautado na confiança mútua e no conhecimento profundo do cultivo, com a vinícola exercendo um controle rigoroso, especialmente nos momentos decisivos da poda e da colheita. Em ambos, a orientação é clara: garantir que as uvas cheguem para a produção com as características ideais para a elaboração de vinhos de guarda.

A relação com os produtores é ainda fundamentada na remuneração justa, um ponto que, para a empresa, é inegociável. A vinícola entende que, para garantir a qualidade superior das uvas, é preciso pagar um valor condizente com o trabalho e o esforço dedicados. O preço justo é visto não apenas como uma questão ética, mas como uma forma de garantir que o produtor esteja motivado a oferecer o melhor de sua colheita. Para a marca, a qualidade do vinho começa com a qualidade da uva, e essa premissa é cumprida com a dedicação e o compromisso de todos os envolvidos, desde o vinhedo até a garrafa final.

A alquimia dos vinhos que evoluem com o tempo

A Maximo Boschi se destaca como a única vinícola no Brasil inteiramente dedicada à arte dos vinhos de guarda. Pelo menos, até onde o Savaris sabe, esse título ainda pertence exclusivamente a eles. Mas o que, de fato, define um bom vinho de guarda? Para o fundador, a base de tudo está na matéria-prima, na escolha da uva. Sem uvas de qualidade excepcional, não há vinho capaz de resistir ao tempo. Essa busca pela perfeição começa no campo, onde cada cacho é selecionado com rigor, pois são essas uvas que darão o suporte necessário para o envelhecimento que a vinícola almeja.

O processo de vinificação, no entanto, exige paciência e precisão. A fermentação é mais longa e controlada, com a temperatura sendo mantida mais baixa para garantir que todos os compostos desejados sejam extraídos da fruta. Depois, o vinho segue para o inox, onde passa por uma maturação inicial, antes de ser transferido para as barricas de carvalho. Nesse estágio, a micro-oxigenação começa a definir a estrutura do vinho, aprofundando seus sabores e texturas. Por fim, o vinho repousa na garrafa, onde continua sua evolução, lentamente atingindo o ponto de perfeição que caracteriza os vinhos de guarda.

A vinícola trabalha com três linhas de vinhos, cada uma com um perfil de uva distinto, o que permite a criação de diferentes projetos dentro de uma filosofia única. No entanto, o vinho de guarda não é um produto voltado para grandes volumes. Savaris reconhece que, embora esse vinho carregue a imagem da Maximo Boschi, sua produção é limitada. Quando a quantidade planejada de garrafas é atingida, a produção é interrompida, tornando cada garrafa uma edição exclusiva e preciosa, uma verdadeira obra-prima que só o tempo pode lapidar.

“Manter a excelência da uva é um dos maiores desafios. Sem isso, não há vinho de guarda. Outro obstáculo enfrentado é convencer o consumidor brasileiro a experimentar vinhos com essa proposta, afinal, mais de 80% do vinho consumido no Brasil é importado. No entanto, a recompensa surge sob a forma de reconhecimento, quando a experiência de um bom vinho de guarda toca aqueles que o provam. Ver a satisfação das pessoas ao provar um vinho que elas não esperavam. Nós abrimos um rótulo mais antigo e o consumidor se surpreende. Ele envia foto, manda mensagem, conta a experiência. Isso, para mim, é gratificante”, conta o fundador.

A identidade da marca refletida em cada garrafa

A filosofia da Maximo Boschi, Vini Singolare, reflete de maneira clara a essência da vinícola. A ideia central é que cada vinho carregue a identidade da empresa, refletindo sua dedicação à qualidade e ao caráter único de seus produtos. O carro-chefe do portfólio, a linha Biografia, é um exemplo perfeito disso, mas Savaris entende que todas as suas linhas devem representar a mesma dedicação. 

A linha Vezzi, por exemplo, é um vinho que, embora mais leve e de maior volume, também segue essa proposta de refletir a identidade da marca. Não é um vinho de entrada, mas oferece uma experiência mais acessível, especialmente voltada para o mercado de restaurantes, onde hoje 80% da produção é destinada.

Essa mudança de foco não aconteceu de forma imediata. No início, o fundador lembra que a estratégia era mais dispersa. Ele produziu um vinho e começou a vendê-lo para qualquer lugar, sem um planejamento claro. No entanto, com o tempo, a vinícola foi amadurecendo sua visão e, hoje, possui um foco bem definido, com canais específicos de venda. A pandemia, contudo, exigiu que a estratégia fosse ajustada. Com os restaurantes fechados, o consumidor final se tornou o alicerce para a sobrevivência da empresa. Essa adaptação, embora desafiadora, foi um aprendizado importante para todos na vinícola.

Foi nesse cenário que surgiu o conceito de “clássico contemplativo”, como um elo entre as linhas Vezzi e Biografia. Antes, a Maximo Boschi tinha vinhos muito distintos: Vezzi, mais leve, e Biografia, um vinho de guarda, com uma complexidade que exige mais tempo de maturação. Mas, no meio dessas duas opções, faltava algo que unisse esses extremos. O conceito foi desenvolvido para preencher essa lacuna, criando uma linha que pudesse dialogar com diferentes tipos de paladar, mantendo sempre a identidade que a vinícola preza.

“Assim surgiu a linha Racconto, um vinho que apresenta um perfil com mais madeira e tanino, capaz de se impor sem perder a harmonia. Para você ter uma ideia, a Biografia passa um ano e meio em madeira e mais quatro anos em garrafa; já o Racconto, mexemos um pouco na elaboração, ele tem uma passagem maior em barrica, mas é um vinho que consegue se impor mesmo sem ser um vinho de guarda”, afirma Savaris.

Uma nova joia borbulhante no horizonte

Vem aí um lançamento exclusivo da Maximo Boschi, preparado especialmente para a ProWine São Paulo 2025. A vinícola apresentará um espumante que promete surpreender os apreciadores da marca. Embora a degustação já esteja acontecendo, o lançamento oficial está marcado para a maior feira de vinhos e destilados das Américas, em setembro/outubro, período em que a produção deverá estar concluída e pronta para o mercado. 

Nos bastidores, a preparação para o lançamento reflete a estratégia da vinícola em manter um portfólio equilibrado entre vinhos de guarda e espumantes. Antes da pandemia, cerca de 60% da produção era dedicada aos espumantes, um volume expressivo que se mantém significativo até hoje. Com o novo rótulo, a Maximo Boschi reforça seu compromisso em criar produtos que combinam excelência técnica e identidade marcante, sem perder o foco na inovação e no tempo como aliado na elaboração de cada garrafa.

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