No cálculo do consumo de vinho per capita, raramente é levado em consideração o número de turistas que visitam o nosso país, e que também consomem
Com muita frequência — se não todos os anos — é divulgada informação que posiciona Portugal como líder mundial no consumo de vinho per capita. Os resultados produzem regozijo de uns e disparam sinais de alerta de outros que veem neste indicador uma evidência de problemas para a nossa sociedade.
É sabido que o consumo em excesso é prejudicial e que tem reflexos nas famílias onde tal acontece. Não deve ser posto de lado, e justifica a atenção dos agentes do sector do vinho e das autoridades de saúde.
Por outro lado, também é sabido que o consumo moderado nos traz, entre outros, satisfação, prazer, descoberta e convívio social. Algo que, possivelmente, não se conseguirá quantificar para realizar um exercício equilibrado e isento entre os benefícios e malefícios do consumo de vinho. O ser humano não é perfeito, mas deixem-nos fazer as nossas escolhas, preferencialmente baseada em informação útil e credível.
O dito indicador do consumo de vinho per capita é calculado anualmente e, por cá, o Instituto Nacional de Estatística (INE), certamente com recurso à metodologia do Eurostat, utiliza o volume de consumo humano apurado no período de 1 de agosto a 31 de julho — correspondente à campanha vitivinícola — e o número de pessoas residentes em 31 de dezembro. Por esta razão, o consumo de vinho per capita refere-se a uma campanha vitivinícola, por exemplo 2023/2024, utilizando o número de residentes em 31 de dezembro de 2023.
Outras organizações, procurando um diferente nível de rigor, utilizam o mesmo volume, mas cingem o cálculo ao número de pessoas residentes acima de determinada idade, excluindo compreensivelmente os mais jovens.
De uma ou outra maneira, há uma parte que é sempre fixa — o volume do consumo humano. Quanto ao número de pessoas, serão mais ou menos se excluirmos determinado escalão etário, mas raramente é levado em consideração o número de turistas que visitam o nosso país, e que também consomem.
Recorrendo aos números do INE referentes aos últimos 20 anos de dados disponíveis, podemos concluir o seguinte: o consumo humano de vinho em Portugal passou de 490 para 555 milhões de litros em 2023/2024, o que resulta em mais 13%; o consumo per capita subiu de 48,7 para 52,2 litros por habitante (residentes), crescendo 7%; e o número de residentes e turistas estrangeiros passou de 16,2 para 28,9 milhões de pessoas, representando um crescimento de 78%.
Estes dados indicam de forma clara que o volume de vinho consumido no nosso país aumentou. Mas que o consumo per capita não cresceu na mesma proporção. O que aumentou, e muito, foi o número de potenciais consumidores que circulam dentro das nossas fronteiras.
Temos todo um universo — residentes e turistas que nos visitam — que são potenciais consumidores de vinhos com a origem Portugal, um dos principais países produtores de vinho na Europa e um dos dez maiores do mundo.
O vinho consumido no nosso país aumentou. Mas o consumo per capita não cresceu na mesma proporção. O que aumentou, e muito, foi o número de potenciais consumidores dentro das nossas fronteiras.
Façamos trabalho construtivo dentro do nosso país, de olhos postos em 28,9 milhões de pessoas, com imagem e comunicação dos vinhos de Portugal como embaixadores da nossa cultura e do nosso modo de vida, que os turistas também desejam conhecer.
Fonte: Artigo de Francisco Mateus para o Público (Portugal)
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