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'Adega' no fundo do mar: vinhos são vendidos pela 1ª vez após 12 meses mergulhados em SC

Bebidas produzidas por vinícolas catarinense e gaúcha ficam no oceano durante todo o processo de maturação. Primeiro lote comercial foi disponibilizado em 2024

Trezentas garrafas de espumantes e vinhos brancos foram colocadas à venda em 2024, pela primeira vez, após ficarem mergulhadas por 12 meses para maturação, na costa de Santa Catarina, em uma adega no fundo do mar.

Segundo Fabiano Mueller, sócio-proprietário de uma das duas vinícolas responsáveis pelo projeto, o primeiro lote comercial foi disponibilizado para venda online em março, mas uma série para teste já havia sido feita em 2022.

Por questão de segurança, os empresários não divulgam a praia escolhida para o procedimento.
O processo consiste em mergulhar as garrafas no oceano, onde ficam por meses até que atinjam o ponto de consumo, e depois são retiradas e comercializadas da forma que saem da água.

Como funciona

O projeto foi elaborado pelas vinícolas Fama, de São Joaquim, na Serra de Santa Catarina, e Videiras Carraro, de Bento Gonçalves, na Serra gaúcha.

Com as uvas produzidas a 1,3 mil metros de altitude, as empresas fabricam as bebidas e, após o engarrafamento, lacram as garrafas com cera para evitar a contaminação e as comportam em caixas de aço inoxidável. As gaiolas são colocadas a 12 metros de profundidade no mar com auxílio de um barco.

Durante os meses em que ficam em maturação, elas são retiradas a cada 60 dias e passam por análises laboratoriais físicas e químicas para verificar a evolução e o processo de envelhecimento.

Sócio da Fama, Fabiano comenta que o vinho não aporta características do mar. A principal diferença, segundo ele, é o processo de evolução mais rápido.

“Isso é o que a gente percebe nessas garrafas. Então, é uma adega aquática, uma cave na vinícola. Em vez da gente ter essa cave, a gente coloca esse vinho na cave aquática, na cave do oceano”, explica.

Experiência também visual

As vinícolas também buscam entregar uma experiência visual diferente aos clientes. Cobertas de corais, algas e conchas, que se incorporam às garrafas, a peça pode se tornar objeto de decoração após o consumo.

“Não temos uma comparação porque é uma coisa única, garrafa única, vinho único. É um espumante único. Não existe comparação com nada”, destaca Jean Carraro, sócio-proprietário da Videiras Carraro.

Efeitos positivos

Conforme o professor de fruticultura e viticultura Alberto Brighenti, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pesquisas apontam que fatores ambientais, como temperatura e pressão constantes, ausência de luz e oxigênio, além do movimento das correntes, podem ser positivos no processo de envelhecimento dos vinhos.

Para o procedimento, ele recomenda trabalhar com vinhos mais encorpados, que apresentam maior acidez, maior teor de taninos e alcoólico. Segundo o especialista, essas características fazem com que a bebida suporte as condições únicas do envelhecimento subaquático.

“Declarações de enólogos [estudiosos de vinhos] indicam distinções entre vinhos subaquáticos e vinhos envelhecidos convencionalmente. Em avaliações às cegas, o vinho envelhecido debaixo d’água exibiu um perfil mais redondo e elegante, com aromas de fruta mais frescos”, menciona.
“Outras avaliações enfatizam a mineralidade presente e a reminiscência do salgado. Alguns também mencionam o aumento da complexidade e melhora na textura dos vinhos envelhecidos no mar”, complementa o especialista.

A doutora em ciências dos alimentos e professora de Enologia no IFSC Urupema, Carolina Pretto Panceri, afirma que o vinho é uma bebida complexa, cheia de compostos químicos que reagem entre si. Essas reações, segundo ela, podem ser aceleradas ou influenciadas por oxigênio, temperatura e luz.

Ela destaca, no entanto, que é importante analisar a pressão no envelhecimento subaquático.
Carolina cita que para o espumante, por exemplo, a profundidade marítima pode ser interessante, já que a pressão externa se iguala à interna da garrafa. Para vinhos mais suaves, no entanto, ela alerta que essa pressão pode destruir o vidro.

“O fato é que comercialmente o processo tem sido utilizado, mas ainda se precisa de mais estudos para comprovação da viabilidade técnica e também econômica deste processo. Mas com certeza já é possível encontrar exemplares envelhecidos no fundo do mar no mercado com preços, eu diria, bem salgados”, diz.

Fonte: G1 SC / NSC TV

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