Vicente Jorge, sócio da Enclos Importação, expositora da ProWine São Paulo 2025, fala sobre tendências globais e o papel do Brasil nesse cenário
Ser um caçador de vinhos, isto é, viajar o mundo descobrindo novos rótulos, encontrando o melhor terroir, uvas e enólogos parece uma profissão dos sonhos. Mas para Vicente Jorge, sócio da Enclos Importação, expositora da ProWine São Paulo 2025, essa é uma realidade há décadas. Aliás, o expert é considerado um dos maiores wine hunters do mundo.
Ele começou sua jornada no universo dos vinhos aos 17 anos em Manhattan, organizando a adega de um milionário. Ao retornar ao Brasil, estudou intensamente e se tornou sommelier. De lá para cá, são mais de 30 anos de experiência e uma carreira focada em trazer vinhos diferenciados para o Brasil.
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Em conversa com o jornalismo da ProWine São Paulo, Jorge revelou que a maior preocupação do setor vinícola atualmente não é somente o aquecimento global, mas sim a queda do consumo de vinho, cujo impacto é mais alarmante. Isso porque os desafios climáticos ainda podem ser mitigados com ajustes na vinificação, enquanto a redução do consumo representa uma mudança de comportamento difícil de reverter.
“No Brasil, essa tendência não se reflete da mesma forma. Nosso consumo ainda é muito baixo, mas está crescendo – saímos de um patamar muito pequeno para quase três litros per capita e seguimos em expansão. O mercado brasileiro ainda tem muito espaço para crescer”, diz o wine hunter.
Na Europa, no entanto, a preocupação é real, principalmente entre os jovens. Há um aumento na busca por vinhos e bebidas sem álcool, impulsionada por questões de saúde e mudança no estilo de vida. Além disso, a cultura de se reunir à mesa para refeições longas e com vinho está se perdendo, o que reflete diretamente no consumo.
No Brasil, também há uma leve tendência de redução do consumo entre os mais jovens, mas, no geral, isso não afeta o crescimento. Pelo contrário, os números mostram que os brasileiros estão aprendendo a beber melhor. O crescimento do consumo de brancos e rosés, que ficaram estagnados por décadas, comprova isso.
Durante 20 anos, o mercado brasileiro foi dominado por 80% de tintos, 18% de brancos e apenas 2% de rosés. Hoje, o branco já representa 25% do consumo, e o rosé, 6,8%.
“Quando comecei, muitos restaurantes e lojas não queriam pagar o mesmo preço por um vinho branco que por um tinto. Havia a ideia de que o branco era ‘menos vinho’. Existe um ditado no mundo do vinho: ‘Você aprende tomando tinto e morre tomando branco’. E faz sentido. O branco exige um paladar mais apurado, porque tem mais nuances a serem descobertas”, afirma o wine hunter.
Jorge afirma que o brasileiro tem se preocupado mais com harmonização e o clima tropical do país favorece vinhos mais leves e gastronômicos. Há 15 anos, em regiões como o Nordeste, um vinho bastante consumido era o Malbec com dois anos de carvalho. Hoje, a procura por rótulos mais frescos e versáteis cresceu significativamente.
Por falar no Nordeste, segundo o wine hunter, os vinhos da região estão ganhando espaço e têm grande potencial para a exportação. Eles carregam um perfil que combina com o calor brasileiro – frutados, vibrantes, que expressam um estilo único, diferente do Sul, onde a produção tem um caráter mais internacional.
O especialista lembra que outro movimento interessante é o crescimento das vinícolas em São Paulo e Minas Gerais. Atualmente, já há roteiros enoturísticos bem estruturados, com vinhos de qualidade e preços mais altos. Cidades como São Bento do Sapucaí e suas vinícolas estão ajudando a consolidar São Paulo como uma nova potência vinícola. O estado demorou, mas está despertando para a produção de vinhos finos.
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