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Malu Sevieri: experiência e visão global no comando da ProWine São Paulo

Em entrevista exclusiva ao Reserva85, diretora da maior feira de vinhos e destilados das Américas, compartilhou bastidores, tendências e reflexões sobre o crescimento do setor e o papel das mulheres no mercado

No comando da maior feira de vinhos e destilados das Américas, Malu Sevieri é diretora da ProWine São Paulo e representante das feiras da Messe Düsseldorf no Brasil. Com mais de 20 anos de experiência no setor de eventos de negócios no Brasil e no exterior, ela reúne trajetória sólida e olhar estratégico para o mercado.

No dia da abertura da ProWine São Paulo 2025, antes mesmo de a feira ser oficialmente aberta ao público, Malu reservou alguns minutos para conversar com o Reserva85. Entre bastidores, tendências e reflexões pessoais, ela falou sobre os diferenciais da edição brasileira, o crescimento de novos países expositores e o papel das mulheres no setor do vinho.

Confira a entrevista concedida a Thamy Laiz, sommelière do Reserva85 e correspondente na ProWine São Paulo 2025.

Reserva85: A ProWine São Paulo é a maior feira do setor nas Américas. O que você acredita que diferencia a feira brasileira das demais edições pelo mundo?

Malu Sevieri: Eu viajo para todas as feiras do mundo e o que acho que diferencia a ProWine São Paulo das outras feiras é o apetite do consumidor. E quando falo consumidor, me refiro ao nosso cliente: o lojista, o varejo, o canal horeca. Todos estão muito abertos para conhecer. O calor do brasileiro também merece crédito. Nenhuma outra feira é tão animada. As pessoas se beijam, se abraçam, porque estão felizes em se encontrar. Muitos expositores estrangeiros estranham isso. A pessoa visita um estande hoje e, no dia seguinte, já chega abraçando. Um russo ou um francês olha e pensa: “o que é isso?” (risos).

Reserva85: Este ano são mais de 1.500 marcas. Há algum país ou região que vem ganhando força e que os visitantes devem prestar atenção?

Malu Sevieri: Este ano são 1.505 marcas de 36 países. Alguns aumentaram bastante a participação. No ano passado, por exemplo, a Geórgia trouxe apenas uma vinícola; este ano são nove, todas com apoio do governo local. A Grécia também ampliou sua presença na feira. Notei ainda um interesse crescente de produtores franceses em participar da ProWine São Paulo, muito em função da tendência de mercado, já que o consumo de brancos e espumantes vem crescendo no Brasil. O que percebemos, de forma geral, é que cada vez mais países estão prestando atenção no nosso mercado.

Reserva85: O consumo de vinho no Brasil cresceu na pandemia, mas depois desacelerou. Qual é a sua leitura sobre o momento atual do mercado?

Malu Sevieri: O consumo de vinho na pandemia estourou, eu brinco que todo mundo virou “sommelier de YouTube”. Mas não acho que desacelerou ou diminuiu: o Brasil continua crescendo todos os anos, mesmo que aos poucos. Estamos formando mais consumidores, que perderam a vergonha e estão aprendendo mais sobre o assunto. Hoje, eles já sabem ler uma carta de vinhos em um restaurante.

Esse crescimento está em todas as categorias, do vinho premium ao de mesa. As pessoas estão mais curiosas para beber vinho. Isso também marca uma nova etapa da ProWine São Paulo. Até agora tínhamos marcas mais conhecidas e consolidadas, mas agora vemos a curiosidade do consumidor impulsionando a chegada de outros produtores. Não está tão acelerado quanto na pandemia, mas seguimos crescendo.

Reserva85: Muitas vinícolas estrangeiras olham para o Brasil como oportunidade. Que conselho você daria a quem quer entrar aqui?

Malu Sevieri: Escolha muito bem seu importador. O Brasil tem muita gente séria, mas também muita gente aventureira. Tem quem ache que porque vende macarrão consegue vender vinho — não vai! Ou quem pensa: “Estou na confraria do meu bairro há 10 anos, agora vou vender vinho” — também não vai! Então, o primeiro passo é escolher bem o importador. Antes disso, é preciso definir uma estratégia. Há produtores no Brasil que trabalham com um único importador e outros que têm três, cada um em regiões diferentes, porque cada importador tem força em um mercado específico. O importante é saber o que você quer.

Reserva85: Agora que você também atua em uma empresa de entretenimento, de que forma essa experiência tem influenciado sua visão sobre o mundo corporativo? Há aprendizados do entretenimento que você já trouxe ou pretende trazer para a ProWine São Paulo?

Malu Sevieri: O entretenimento já estava no meu DNA antes mesmo de eu entrar na Dream Factory. Essa troca é muito rica, porque vemos o que funciona em um lugar e não no outro, e vice-versa. Mas acredito que a chave está em entender o público e o que ele quer ver.

Na ProWine São Paulo, sempre buscamos trazer atividades dinâmicas para interagir com o visitante, pensamos em uma decoração diferente a cada ano. Mas, como a ProWine São Paulo é uma feira de negócios, não cabe tanto entretenimento assim. Há eventos corporativos em que terminamos com um grande show, mas na ProWine São Paulo não funciona. Aqui, o produtor encerra o dia em um jantar ou degustação, sempre dentro de uma programação de negócios.

Reserva85: Em uma entrevista você comentou sobre o choque cultural que teve com os alemães, não tanto por ser mulher, mas pela sua idade. Aqui no Brasil, quando você foi apresentada como representante oficial da ProWine São Paulo, sentiu algum tipo de resistência pelo fato de ser mulher em um mercado ainda tão masculino?

Malu Sevieri: Sim e não. Eu tenho a sorte de ter um sócio, o Christian Burgos, que me acompanha em todo lugar e faz questão de me valorizar. Então, se alguém já pensou em ser preconceituoso comigo, ele corta isso logo no início. Assim como um produtor precisa escolher bem seu importador, temos que escolher um bom sócio. E  tenho o melhor. Ele chega nos lugares me apresentando como mais inteligente e conhecedora de mercado que ele. Não é verdade (risos), eu sei fazer feira, mas no mercado do vinho aprendo um pouco mais a cada ano. Por isso, não senti resistência significativa nesse setor e continuo sem sentir. Em outros mercados onde atuo, como metal, mecânica e máquinas industriais, a resistência é muito maior. Mas é bonito ver cada vez mais mulheres se destacando no vinho, seja na parte comercial, como produtoras, ou em grupos como a World Wine/Lapastina, liderada 100% por uma mulher, a Juliana Lapastina. Dá gosto de ver.

Reserva85: Você é uma inspiração para muitas mulheres que atuam no setor. Que mensagem gostaria de deixar para elas sobre construir carreira e espaço no mercado de vinhos no Brasil?

Malu Sevieri: Estudem e não tenham medo de falar o que aprenderam e o que pensam. Uma vez passei por uma situação muito constrangedora em um grupo de líderes mulheres. Uma delas contou que, em sua multinacional, para ser ouvida em reunião, precisava bater pés e mãos na mesa e até subir nela — e relatou isso com orgulho. Eu fiquei chocada.

Nós, mulheres, somos inteligentes demais para precisar de atitudes tão drásticas. Quando falamos com propriedade sobre um assunto, a segurança vem naturalmente — e é o estudo que dá essa base.

Manter o equilíbrio também é essencial. Somos naturalmente mais emotivas, mas precisamos aprender a cuidar dessas emoções e entender o que temos a agregar. Juntando conhecimento, segurança e equilíbrio, ninguém segura você. É foguete!

A ProWine São Paulo é uma feira destinada exclusivamente a profissionais do setor. As inscrições são gratuitas e o credenciamento para 2026, quando disponível, estará no site oficial www.prowinesaopaulo.com.

Fonte: Reserva85

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