Aposta em uvas nobres e experiências imersivas marca a nova geração de produtores paulistas
Os vinhos de inverno, por meio da dupla poda, e o enoturismo são duas das apostas para reestruturar o setor vitivinícola de São Paulo, cujo rendimento médio da produção de uva (18.901 kg/ha) fica em quarto lugar entre os estados brasileiros – atrás de Pernambuco (48.081), Bahia (28.209) e Rio Grande do Sul (19.247).
Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2023, e foram mostrados durante a ProWine São Paulo 2024, na palestra “Revitalização da vitivinicultura paulista”, conduzida pela assessora do gabinete da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, Adriana Verdi.
Ela falou sobre a “mudança de paradigma” feita por novos empreendedores da Serra da Mantiqueira, com o uso da técnica da dupla poda, a partir de 2010. A região tem se diferenciado por não produzir vinhos de mesa e se dedicar exclusivamente às uvas finas, como Chardonnay e Syrah.
Em relação ao enoturismo, Adriana destacou o projeto “Rotas do Vinho de São Paulo”, lançado em agosto deste ano. São 66 vinícolas selecionadas – 55 divididas em cinco rotas e outras 11 espalhadas pelo estado. Todas atendem a dois critérios: estar formalizadas e ter, pelo menos, uma atividade bem estruturada para os turistas.
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“Temos observado que as regiões tradicionais ainda focam em algumas variedades de vinho de mesa, principalmente com a Niágara, que é uma uva para consumir in natura, mas que, tradicionalmente, sempre foi utilizada também no processamento de suco e vinhos. Além da Isabel e da Bordô, cuja presença é significativa na região de Jundiaí e de São Roque. Já as regiões mais novas, principalmente a de Pinhal, de Campos do Jordão, de São Bento do Sapucaí e da Alta Mogiana, estão focando nas variedades finas, tendo a Syrah como carro-chefe. É um novo perfil de produtor, que não tem muita tradição, que não é do segmento, mas que tem capital e conhecimento para a produção de vinho fino”, diz.
Sobre as regiões ou cidades paulistas que têm se destacado nesse setor nos últimos anos, a assessora cita Espírito Santo do Pinhal e as redondezas: São João da Boa Vista, Santo Antônio do Jardim e Itobi – uma região cafeeira, com uma certa altitude.
De acordo com Adriana, seja uma vinícola tradicional ou mais moderna, esse novo perfil de produtor já surge com um foco claro no turismo. O enoturismo se destaca como uma importante fonte de receita, indo além da simples venda de vinhos. Ele engloba a paisagem, a gastronomia e a criação de experiências, formando um conjunto que complementa o vinho. Isso também reflete no setor de serviços, onde não basta oferecer um bom produto; o vinho precisa ser servido com cuidado e requinte.
A assessora listou os seis principais desafios enfrentados pela vitivinicultura em São Paulo: escassez de matéria-prima, disponibilidade de mão de obra qualificada, tributação, ausência de informações, informalização e falta de identidade do vinho paulista e comentou o que o estado tem feito, em parceria com os produtores, para que essas dificuldades sejam suplantadas.
“A mão de obra é um desafio, não só do segmento vinho, mas também das demais culturas e agroindústrias no estado de São Paulo. Nesse sentido, nós estamos ofertando um curso voltado à formação de mão de obra em parceria com a Escola Paula Souza e com o Instituto Federal, em São Roque. Então, de certa forma, essa dor está sendo atacada, mas ainda requer um estudo bastante aprofundado para ofertar cursos de qualificação para o pessoal que vai trabalhar com o vinho nas vinícolas, na gastronomia. Ou seja, é um trabalho que ainda merece certa atenção do estado”, explica.
Outra questão que já foi mais importante, segundo ela, é a produção de mudas. Hoje, a Secretaria Estadual da Agricultura, por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), está proporcionando as principais variedades para o segmento.
Para Adriana, o vinho de inverno, com o uso da técnica da dupla poda, é a principal tendência para fortalecer a produção de vinho no estado de São Paulo. A assessora atesta que a dupla poda veio para ficar.
“Essas regiões não tradicionais que estão emergindo e se destacando podem explorar a maior amplitude térmica e isso é um diferencial importante, é um recurso para a melhoria da qualidade da produção de uva e, consequentemente, do vinho. Além de tirar a colheita de uma fase mais úmida do ano, o que também é um ganho importante para a qualidade”, finaliza.
Com informações da Revista Adega
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