Região é forçada a adaptar práticas vinícolas para preservar sua tradição secular
Bordeaux, uma região fortemente associada a vinhos de alta qualidade, enfrenta um desafio sem precedentes: o aquecimento global. Conhecida por seus tintos encorpados e complexos, a região pode ver uma mudança significativa na composição de seus vinhos devido às crescentes temperaturas globais.
À medida que o aquecimento global avança, a região vinícola de Bordeaux enfrenta desafios que ameaçam a tradição de seus renomados vinhos tintos. As temperaturas crescentes impõem uma revisão das práticas e variedades de uvas que definiram a identidade dos vinhos de Bordeaux por séculos.
Cerca de 90% das regiões vinícolas tradicionais em zonas baixas e costeiras de Espanha, Itália, Grécia e Sul da Califórnia poderão deixar de ser adequadas para a produção de vinho no final do século como consequência das mudanças climáticas. É o que aponta uma revisão científica realizada por pesquisadores das universidades de Bordeaux e Borgonha, na França, e de Palermo, na Itália, e divulgada esta semana na revista científica Nature Reviews Earth & Environment.
A composição clássica do “corte bordalês”, dominada pela Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, está sendo repensada à luz das novas condições climáticas. Em resposta, o Inao, instituto que regula as denominações na França, aprovou o uso de uvas como Touriga Nacional e Marselan, conhecidas por sua resistência ao calor. Essas variedades, embora estranhas à região, podem ser cruciais para manter a qualidade dos vinhos diante do aumento das temperaturas.
“Além disso, a mudança climática pode afetar o perfil de sabor dos vinhos. Com temperaturas mais altas, as uvas podem amadurecer mais rapidamente, potencialmente levando a vinhos com maior teor alcoólico e menos acidez, alterando assim o equilíbrio e a complexidade que são marcas registradas dos vinhos de Bordeaux”, salienta o especialista Nilton Serson.
Em Bordeaux, a graduação média de álcool dos vinhos tem aumentado, refletindo as temperaturas mais altas durante o período de maturação das uvas. Isso está ocorrendo apesar dos esforços dos produtores para conter esse avanço, indicando um desafio contínuo para manter o equilíbrio e a qualidade dos vinhos.
“Essas mudanças, no entanto, trazem consigo um conjunto de desafios. Os produtores devem alinhar as maturações tecnológica e fenólica das uvas, enquanto eventos climáticos extremos, como geadas e chuvas de granizo, representam riscos adicionais. Apesar disso, há oportunidades emergentes, como a produção de vinhos com perfis de sabor únicos, que podem redefinir a vinicultura global”, pontua Serson.
O futuro do vinho tinto de Bordeaux está em um ponto de inflexão. A habilidade dos vinicultores em adaptar-se e inovar determinará se a região pode continuar a produzir vinhos que refletem sua herança, mesmo sob condições de um planeta em aquecimento.
Essas descobertas são um alerta para os produtores de vinho do sul da Europa e destacam a necessidade de estratégias de adaptação para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. A pesquisa sugere que a viticultura como a conhecemos pode mudar drasticamente nas próximas décadas, com algumas regiões perdendo sua tradição vinícola e outras emergindo como novos centros de produção de vinho de qualidade.
Fonte: Revista Vinícola
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