Condições climáticas favoráveis e manejo eficiente garantiram uma safra excepcional, com aumento da produção em relação a 2024
A colheita da safra de 2025 se mostra promissora para a viticultura da Serra Gaúcha, com um volume de produção dentro das expectativas e qualidade excepcional das uvas. Enólogos e dirigentes das principais vinícolas da região destacam os fatores que contribuíram para esse desempenho e projetam um futuro de investimentos e inovação no setor.
Volume de produção e condições climáticas
Para Daniel Dalla Valle, enólogo e diretor industrial do Grupo Famiglia Valduga, a safra de 2025 superou ligeiramente as expectativas definidas durante a poda seca do inverno de 2024. As condições climáticas foram determinantes para esse resultado, com chuvas moderadas e temperaturas bem distribuídas entre o dia e a noite, garantindo uma maturação uniforme das uvas. “A aceleração da maturação exigiu agilidade das equipes para colher as uvas no ponto ideal, evitando perdas na qualidade”, destaca.
Na Cooperativa Vinícola Aurora, o cenário também é positivo. O presidente Renê Tonello considera a safra de 2025 um momento de recuperação para o setor, após a quebra de 28,6% registrada no ano anterior. “Neste ano, devemos concluir a colheita dentro dos parâmetros médios da cooperativa, atingindo aproximadamente 73 milhões de quilos de uvas”, afirma.
Já na Cooperativa Vinícola Garibaldi, o enólogo Ricardo Morari observa que o volume colhido se aproxima dos níveis de 2022, ficando em torno de 28 milhões de quilos. O desempenho contrasta com o da safra anterior, marcada por uma queda de 35%. “Essa safra é bem maior em comparação ao ano passado”, pontua.
Destaques entre as variedades de uva
As uvas colhidas apresentaram alto padrão de qualidade, com destaque para algumas variedades específicas. Segundo Dalla Valle, no Grupo Famiglia Valduga, o destaque vai para as uvas Pinot Noir (base para espumante tradicional), Trebbiano (base para espumante pelo método Martinotti), Chardonnay (vinho tranquilo) e Merlot (vinho tinto). Para suco de uva, as variedades Bordô e Concord foram as mais expressivas. Além disso, ele ressalta que as uvas desta safra apresentaram sanidade perfeita e uniformidade de maturação, fatores essenciais para garantir a excelência dos vinhos e espumantes.
Tonello, da Cooperativa Vinícola Aurora, ressalta que as variedades americanas e híbridas, como Lorena, BRS Magna e Bordô, apresentaram excelente desempenho para sucos e vinhos de mesa. Entre as uvas viníferas, as mais promissoras foram Merlot, Chardonnay, Riesling e Tannat.
Já Morari, da Cooperativa Vinícola Garibaldi, enfatiza que as uvas para espumantes tiveram um desempenho notável. “Prosecco, Chardonnay, Pinot Noir e os Moscatos atingiram uma maturação ideal, preservando frescor e intensidade aromática”, detalha. Entre as tintas, o enólogo destaca o Tannat, Marselan e Merlot, que demonstraram grande potencial para vinhos de guarda.
Qualidade e perspectivas para os vinhos de 2025
A qualidade das uvas colhidas reflete-se diretamente na expectativa de produção de vinhos excepcionais. “Alcançamos bases espumantes para obter grandes exemplares, e os tintos ainda em maceração prometem excelência”, afirma Dalla Valle. Ele ressalta que as condições climáticas desde a primavera favoreceram uma floração saudável e cachos uniformes.
Tonello destaca que as uvas colhidas na Aurora apresentaram teor de açúcar elevado, resultando em produtos estruturados e equilibrados. “Os espumantes manterão o padrão já reconhecido, enquanto o suco de uva terá mais intensidade de cor”, explica.
Na Vinícola Garibaldi, Morari reforça a expectativa de uma safra excepcional. “A pouca chuva no período de maturação permitiu colher uvas no auge da qualidade, garantindo vinhos jovens frescos e espumantes elegantes”, projeta.
Impacto da crise climática e medidas preventivas
Apesar das adversidades climáticas enfrentadas no ano anterior, o impacto na safra de 2025 foi relativamente pequeno. “Nosso vinhedo próprio teve poucas perdas, mas alguns produtores parceiros que fornecem uvas para suco enfrentaram perdas totais”, relata Dalla Valle. Para minimizar possíveis impactos, medidas preventivas foram adotadas, como a manutenção dos acessos aos vinhedos, garantindo que funcionários, máquinas e implementos pudessem chegar às áreas de plantio sem dificuldades.
Tonello destaca que a cooperativa teve uma redução inferior a 3% no volume total devido a deslizamentos de terra que afetaram algumas famílias produtoras. Para mitigar riscos futuros, medidas como cobertura de solo e construção de vinhedos em patamares foram adotadas.
Morari complementa que a Garibaldi intensificou as orientações técnicas aos cooperados, garantindo um manejo sustentável das vinhas desde a poda até os tratos culturais. “Qualquer detalhe a mais no cuidado das uvas se reflete em uma qualidade ainda maior”, observa.
Tendências e investimentos para o futuro
O setor vitivinícola segue atento às novas tendências de consumo e às inovações tecnológicas. “Existe uma demanda crescente por bebidas com teor alcoólico reduzido ou sem álcool, o que nos leva a investir em novas tecnologias tanto no vinhedo quanto na vinificação”, comenta Dalla Valle, do Grupo Famiglia Valduga.
Tonello destaca que a Cooperativa Vinícola Aurora planeja ampliar sua linha de produtos sem álcool, esperando um crescimento de 20% nesse segmento em 2025, com destaque para a linha Zero Álcool, que deve crescer 30%. “Estamos investindo R$25 milhões em melhorias industriais, incluindo a aquisição de novos tanques de estabilização e refrigeração, autoclaves para espumantes e uma nova linha de envase Tetra Pak”, revela.
Além disso, ele menciona que a cooperativa está adquirindo filtros de resina para melhorar a qualidade dos vinhos e sucos e transferindo a linha de envase de vinhos de mesa da matriz para a unidade Vinhedos.
Na Garibaldi, Morari ressalta o foco na ampliação da capacidade de produção de espumantes e na introdução de novas variedades adaptadas às mudanças climáticas. “Seguimos investindo em inovação para atender às exigências do mercado e melhorar a qualidade dos produtos”, conclui.
A safra de 2025 se desenha como um marco positivo para o setor vitivinícola brasileiro. Com condições climáticas favoráveis, uvas de alta qualidade e investimentos estratégicos, as vinícolas se preparam para oferecer ao mercado vinhos e espumantes de excelência. Os consumidores podem esperar produtos com aromas intensos, estrutura equilibrada e grande potencial de guarda, consolidando a posição do Brasil no cenário mundial do vinho.
Fonte: Jornal Semanário
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